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Câncer de mama tem tratamentos menos invasivos e inteligência artificial no diagnóstico; saiba o que há de novo

Publicada em 26/10/24 às 09:32h - 8 visualizações

por JHULLY COSTA


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 (Foto: Duda Fortes / Agencia RBS)
Conhecido como o tipo de tumor que mais mata mulheres no Brasil, o câncer de mama segue representando um desafio para a medicina. A estimativa atual é de que o número de novos diagnósticos a cada ano corresponda a um Maracanã praticamente lotado – o estádio é o maior do país, com capacidade para 78,8 mil pessoas. Para aumentar as chances de cura e a qualidade de vida dessas pacientes, a oncologia tem apostado em novas tecnologias que ajudam a aprimorar o diagnóstico e o tratamento da doença.

Entre os principais avanços, estão o uso de inteligência artificial (IA) no rastreamento de tumores, a identificação mais precisa dos subtipos da doença, o surgimento de novas classes de medicamentos e terapias – como imunoterapia e hormonioterapia – e o aperfeiçoamento de técnicas de radioterapia e de cirurgias oncológicas.

– Nós temos um arsenal de tratamento muito maior hoje do que há 10 anos. E isso muda a questão da sobrevida, porque temos mais opções, linhas de tratamento que nos fazem ter a oportunidade de prolongar a vida dessas pessoas. Impulsionamos e melhoramos muito o tratamento e a qualidade de vida das pacientes – salienta Emanuelle Narciso, chefe do Serviço de Mastologia da Unidade 3 do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Os especialistas destacam, contudo, que nem todos os progressos estão amplamente disponíveis no Brasil. A imunoterapia, por exemplo, é uma realidade na rede privada, mas ainda não foi totalmente incorporada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já o uso da inteligência artificial, bastante difundido em outros países, ainda é algo incipiente até mesmo para as pacientes de instituições particulares.

De acordo com a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 73.610 novos casos de câncer de mama por ano entre 2023 e 2025 no Brasil. Isso significa que o risco estimado é de 66,54 diagnósticos a cada 100 mil mulheres, conforme Emanuelle.

– É bem alto. E o câncer de mama no Brasil é a principal causa de morte por câncer em mulheres. O último dado de mortalidade que temos, que é de 2020, aponta 17.825 óbitos.

No Rio Grande do Sul, o índice de risco estimado fica em 36,6 casos para cada 100 mil mulheres. Diante desses dados, especialistas, instituições e órgãos de saúde somam esforços para conscientizar a população em campanhas como o Outubro Rosa e avançar em pesquisas sobre novos métodos de diagnóstico, medicamentos e terapias.

Antonio Dal Pizzol, oncologista clínico e diretor-médico adjunto do Hospital Santa Rita, que integra a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, ressalta que os avanços em relação ao manejo do câncer têm múltiplas dimensões:

Às vezes, quando falamos de cura do câncer, as pessoas imaginam um comprimido mágico. Isso está no ideário popular, como se fosse uma descoberta única. Mas, na verdade, é um grupo de descobertas. É um problema que vai ser resolvido ou mitigado por várias frentes.

ANTONIO DAL PIZZOL

Oncologista do Hospital Santa Rita

Contribuições da IA

Entre os avanços, alguns estão concentrados nas tecnologias de imagem. Na visão do oncologista, é nessa área que a inteligência artificial poderá fazer diferença primeiro, tornando o rastreamento da doença cada vez mais inteligente.

– Nós ainda não temos a total incorporação disso na prática. Hoje, ainda dependemos do olhar dos nossos radiologistas para analisar as imagens, mas talvez em um futuro próximo tenhamos ao menos o auxílio da inteligência artificial na análise dessas imagens para pegar sutilezas que poderiam escapar ao olho humano – projeta Dal Pizzol.

Duda Fortes / Agencia RBS


Na Santa Casa, conforme o especialista, há iniciativas de desenvolvimento e aprimoramento desses modelos, nas quais as tecnologias estão em fase de estruturação e maturação. Emanuelle, do Inca, reforça que o uso da inteligência artificial ainda não é uma realidade no SUS e, no serviço privado, é considerado algo incipiente e complementar ao trabalho dos especialistas que fazem o diagnóstico.

– Já é uma realidade no Brasil, mas ainda muito devagar. Por enquanto, os equipamentos que mais utilizam a IA por aqui são a mamografia e o ultrassom. Mas nos dois exames a tecnologia só faz uma menção de que julga ter algo diferente, ainda é o médico que vai rever o exame e dizer se de fato aquilo é ou não uma lesão – esclarece.

A especialista considera que a implementação da IA será muito boa para algumas áreas, como na patologia. Para exemplificar, cita a imuno-histoquímica, um exame complementar de diagnóstico, que depende muito da observação do profissional que está avaliando:

– Quando tivermos um algoritmo para avaliar essas imuno-histoquímicas, uniformizará o processo. Acho que o que vai trazer de incremento é isso: serão laudos mais uniformes, porque vai ser sempre a mesma leitura, enquanto com o ser o humano vai variar de acordo com o conhecimento e experiência da pessoa, e a técnica que foi usada. Então, para algumas áreas vai ser um grande avanço.

A mastologista Maira Caleffi, que é chefe do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento e presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), acrescenta que a IA pode ser muito útil para outras áreas que trabalham com imagens e são capazes de utilizar banco de dados, como a radiologia.

Conforme a especialista, no Moinhos já existe uma aceleração da ressonância magnética por meio da inteligência artificial. O exame é importante para o diagnóstico da doença, mas normalmente demora entre uma hora e uma hora e meia. Com a IA, o tempo reduziu para 40 minutos, afirma Maira:

Com a IA, o exame consegue ser muito mais rápido e mais preciso. Como a ressonância gera muitas imagens, a IA faz um apanhado dessas imagens e ajuda o radiologista a interpretá-las. E não precisamos de tanto tempo para fazer o exame, o que também aumenta a viabilidade dos aparelhos.

MAIRA CALEFFI

Chefe do Núcleo Mama do HMV


Novas terapias

Para o oncologista Dal Pizzol, outro avanço está antes do início efetivo do tratamento. Trata-se da medicina de precisão, que analisa os tumores de forma mais aprofundada. Com ela, a biópsia atualmente consegue identificar os erros genéticos e moleculares para ajudar a entender melhor os subtipos de câncer e, consequentemente, o tratamento mais adequado.

– Cada câncer é único. E quanto mais entendemos onde é que está o erro molecular ou genético que fez essas células se tornarem malignas, melhor será a escolha desse tratamento. E existem vários tratamentos novos e várias inovações acontecendo do ponto de vista de medicações. Um bom exemplo é a imunoterapia – aponta.

Duda Fortes / Agencia RBS




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